quinta-feira, 5 de março de 2009

Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos


"Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos...


É incrível como o amor é tão difundido, expressado e não de fato compreendido e sentido. Poetas, músicos, escultores, pintores e outras inúmeras categorias importantes vêem ao longo do tempo, tentando achar a melhor explicação para uma palavra de 5 letras e capaz de tanto alvoroço.
O próprio dicionário Aurélio apresenta pelo menos 7 definições! Vejam só que loucura! Uma delas diz “Sentimento de dedicação absoluta de um ser a outro, ou a uma causa”, a outra “Sentimento que predispõe alguém a desejar o bem de outrem”, isso sem falar em “Inclinação sexual forte por outra pessoa”; tantas são as definições que nos perdemos entre elas.
O amor sagrado, materializado na forma do filho de DEUS, que veio para salvar a humanidade e mostrar-nos o caminho, que tantas vezes insistimos em desviar. O caminho do certo, do “amar ao próximo como a si mesmo” e que não é de fato amado, e ainda, nem respeitado. O próximo que é tão próximo que chega a ser membro da família. A família, que é berço do amor incondicional perdeu o sentido ao longo do tempo, graças a incrível incapacidade do ser humano em sentir o amor.
Sabe qual é a graça de estar apaixonado? É achar graça em tudo! Ver a beleza em tudo, até mesmo em um dia cinzento de chuva, mesmo estando sozinho. Basta ter no pensamento, na lembrança, o objeto (veja só como mudamos a condição humana: objeto) do amor. Opa! Apaixonado se refere (novamente remetendo ao dicionário) “Que denota ou em que há paixão”. Paixão, de fato, diz respeito à “amor ardente”. Não há palavra para a condição de amar alguém. Nossa língua, tão rica, ainda não encontrou definição para tal. E eu, que falei agora pouco que muitos buscam explicação para o amor, me pego agora buscando definições no dicionário. Que ironia.
O amor não tem momento certo, dia e hora pra acontecer. Ele acontece quando menos esperamos e sem seguir nenhum roteiro, tal qual em filmes antigos, ou novos, como bem quiser. Amor de primavera, de verão, de outono, das quatro estações ou de todas as estações, paradas e portos da vida. Ele não nasce, apenas se manifesta. Já faz parte da condição humana, da necessidade que vem desde o útero materno. Já nascemos amando àquela que nos amamenta e transmite todo o seu amor através do precioso alimento que nos é dado.
Fernando Pessoa diz que “não amamos alguém, amamos tão somente a idéia que fazemos de alguém”. Será? Você se apaixona pelo jeito com que ela (a pessoa) fala do mundo, do gosto requintado ou simples, da forma que ela cozinha, como diz a todo instante que você é muito importante e nesse mesmo instante te deixa sem graça. Fernando Pessoa sabia o que dizia.
Não podemos amar um e desejar outro, ou outros. Relacionamentos acabam e casamentos são desfeitos por puro capricho, pelo desejo de buscar algo mais do que se tem. Sei que o homem, em especial, é polígamo desde que o mundo é mundo, mas isso também pode ser desculpa para “puladas de cerca”.
Dizem que só temos um amor verdadeiro ao longo de nossa existência, mas também ouço, e confesso que já disse, que temos vários. E o amor, ah, aquele grande amor que marca para sempre a nossa passagem aqui na Terra? Aquele amor que faz você largar tudo e mudar definitivamente de rumo, de cidade, de Estado ou até mesmo de País, aquele que você nunca esquece ou simplesmente diz que esqueceu, que não passa de lembrança distante. Esse é o amor tão puro declamado em prosa e verso, o amor que liberta e dá sentido à vida.
É comum ouvirmos a frase “eu te amo” e achamos isso a coisa mais importante do mundo. Ah, porém de se convir que “eu te amo” virou uma espécie de “bom dia” entre enamorados. Algo cotidiano, comum. Claro que é imprescindível dizermos, mas no momento que realmente sentimos. Sentimento é para ser sentido no fundo do coração. Quando palavras não traduzem, mas sim os atos. O amor que não admite posse do tipo “ você é MEU namorado, MINHA mulher, MEU amor”, ninguém pertence a ninguém! Quer mais disparidade do que em “isso não é justo, ele não poderia me deixar agora”? Isso não é amor, é egoísmo! Amar é querer bem, desejar que o outro tenha sucesso e seja feliz independente de estar ou não ao seu lado. O amor não existe para sermos dependentes um do outro, mas sim para unir dois complementos em um só. Não somos metades, somos inteiros, apenas sem um pedacinho essencial para nossa realização plena.
Amor e sexo caminham lado a lado, como paralelas, que em algum momento se cruzam, mas que nós constantemente juntamos. O “fazer amor” pode ser muito bem “fazer sexo”, sem sentimento, apenas com desejo (e muito) nas horas mais loucas e nos lugares menos convencionais. Existiam culturas na antiguidade que usavam o sexo para se aproximar de DEUS. Estranho? Os mais ortodoxos diriam que sim, mas agimos de mesma forma inconscientemente. “Crescei-vos e multiplicai-vos”. Vamos então copular de forma irresponsável, ainda mais nos dias de hoje? Claro que não! Fazer amor é muito mais interessante do que fazer simplesmente sexo. Estar ao lado de quem te completa, como disse agora pouco, e viver momentos de puro prazer é algo que realmente aproxima o ser humano daquele que O criou, até mesmo porque somos a materialização de todo esse amor.
Há de compreendermos o verdadeiro significado do amor quando abandonarmos o sentimento de egoísmo, medo e posse que nos acomete a todo instante, respeitando uns ao outros como indivíduos, como pessoas inteligentes e dotadas de uma infinita capacidade, a de amar.

...sem amor eu nada serei”.
(adaptação da Carta de Paulo aos Coríntios, feita por mim)